quarta-feira, outubro 20, 2004

Quebra de tabu

O diário “A Capital” assumiu uma posição pública que poderá ser identificada como inédita. Não pelo conteúdo, mais pela forma. O editorial de terça-feira, assinado pelo director do jornal, Luís Osório, assumiu de uma forma inequívoca, a preferência pela vitória do democrata John Kerry nas eleições dos Estados Unidos.

A tomada de posição foi decidida em reunião de editores. Luís Osório advoga a urgência de os jornais se constituírem como “corpos vivos, capazes de criarem condições para a discussão de um assunto que pões em causa princípios fundamentais”. “Mais do que a vitória de Kerry, é fundamental que Bush perca as próximas eleições”, defende o director do título.

Nos Estdos Unidos é habitual os jornais de referência assumirem na sua linha editorial posições claras sobre as políticas internas do país. Ainda recentemente o mítico New York Times defendeu a vitória de Kerry. É de notar que a população americana já está a votar, pois existe a possibilidade de votar antes do dia de eleições em alguns estados.

Será que foi quebrada mais uma barreira? A declaração d’A Capital constitui uma sacudidela na tradição da imprensa nacional?

Luís Osório esclarece que não assumiram “esta posição enquanto opção de direita ou esquerda, mas sim enquanto europeus que acreditam num mundo mais tolerante e menos perigoso” e clarifica que semelhante decisão no panorama político nacional apenas se conferia se “algum princípio estruturante fosse posto em causa”.

Os ministros Morais Sarmento e Gomes da Silva devem estar a rezar para que Marcelo não passe a incluir o número de telefone Luís Osório na sua agenda de contactos.

Pessoalmente concordo com o posicionamento d’A Capital. É mais honesto o órgão de comunicação social tomar uma posição clara na sua linha editorial, do que recorrer a formas mais subliminares que se aproximam perigosamente da manipulação. Se as notícias forem devidamente pluralistas, isentas, objectivas e enquadradas no respectivo contexto, entendo que para além das colunas de opinião de colaboradores, a linha editorial do poderá perfeitamente assumir – pontualmente – posições sobre a realidade nacional e internacional. É uma atitude menos hipócrita.

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