sexta-feira, outubro 08, 2004

Notícias do 4º calhau, a contar da esquerda...



O nome desta foto é "Janela para o Mundo"
e é da autoria de Jorge Coimbra, tendo sido
extraída - mais uma vez - do site
1000 Imagens.

Sei que há pessoas que aqui vêm que gostam
destes felinos... mas também sei que aqui há gato...





Não, não estás sozinho Francisco… apenas não tenho tido a disponibilidade imprescindível… e a verdade é que também tenho andado um pouco arreliado… e juro que o meu agastamento nada tem a ver com o fio dental do White Castle em prime time…

Não sei bem por onde começar…

Começar pelo diferendo Governo – Media Capital – Marcelo? Penso que não haja muito a dizer… quem ainda acredita na divisão dos poderes e presume que a comunicação social tem cada vez mais poder… está redondamente enganado… penso que este é um exemplo de algo que eu já há algum tempo defendo… não existe comunicação social, apenas grupos económicos com departamentos de comunicação corporativa…

Reparem no ridículo… o presidente de um grupo económico – Pais do Amaral – debate directamente com um colaborador – Marcelo R. Sousa – sobre o desempenho deste? Onde anda o director de informação? Mesmo com o Eduardo Moniz no estrangeiro trata-se de uma situação inadmissível, total usurpação de poderes. O presidente da empresa toma o poder editorial? Trata-se da assunção da falência do jornalismo – e eu estou-me a referir ao jornalismo utópico dos manuais…

Não compreendo… como é que os jornalistas da redacção da TVI aceitam um nível destes. Ok, Ok… emitiram um comunicado… e mais não podem fazer… também eles têm os miúdos em colégios, hipotecas, leasings… MUDEM DE PROFISSÃO OU TOMEM UMA POSIÇÃO DE FORÇA… seria bom deixarem-se de dissimulações… não digam que são jornalistas…

Censura? Não, não há censura Francisco… censura pressupõe a existência de informação, de notícia… cadê a informação… cadê os agentes de informação?? A única coisa que vamos tendo é uma enxurrada de fait divers embalados como notícia. Propaganda… comunicação empresarial? Sim, disso temos muito… censura não! Não vejo uma oposição ao status quo implementado… é vantajoso para um grande número de pessoas… os outros – leia-se “nós” – estamos a vegetar… a estupidificar… e assim é que é bom… é para o nosso próprio bem… que raiva…

Por falar em jornalistas… e que tal o nosso amigo jornalista-faz-tudo? Luís Delgado… ele é Diário Digital, comentador na SIC Notícias, colunas de opinião em jornais, ele é LUSA.. ele é o presidente do clube de fans do Santana Lopes… e agora… como é? Grupo PT/Lusomundo Média? Bem, o sujeito é tudo o que eu quero ser quando me deixar de merdas líricas… ah, e não se esqueçam que também é jornalista….

Mas o melhor é mesmo deixar falar o mestre, ele explica:

Os censores de serviço
Luís Delgado

Ele há mistérios, indecifráveis, que se revelam em momentos de agitação. Então não é que os censores de serviço de anteriores encarnações políticas, tanto no PSD de Cavaco, como no PS de Guterres, e que zelavam febrilmente pelo alinhamentos dos telejornais, e colocavam incompetentes descarados em tudo o que era orgão de comunicação, estão agora preocupados com a situação de Marcelo Rebelo de Sousa? E com a liberdade de expressão? E com empresas privadas e grupos de comunicação?

Eles têm lata, muita, e nunca a perderão. Uns pela sua natureza conspirativa, que só se ergue e reaparece para ganhar uma quota de mercado contra os seus próprios partidos – porque é que são militantes? – e outros, mais no caso patológico de Arons de Carvalho, que nunca ninguém percebeu, nem perceberá, tal o brilhantismo que inspira, como é que alguma vez chegou a deputado, com que qualificações, e por que carga de água. (A propósito, dr. Arons: vá dar uma volta, mas faço-o com alguma consistência. É este o novo PS de Sócrates, com estas figuras que se deviam esconder, tal foi o mal e a trapalhada que fizeram nas áreas que tutelaram?) Será que um Pacheco ou um Arons, quando dizem o que disseram, nunca perceberam que estão a ofender e a qualificar de mentecaptos e incapazes, centenas e centenas de jornalistas, que afinal se deixariam manipular, pressionar e vergar às ordens de um qualquer administrador ou director? Não percebem que isso é um insulto grave? E os jornalistas, igualmente, também ainda não entenderam que estão a ser humilhados.

E já agora: a censura só existe na cabeça dos que a já fizeram e sabem como se faz, e numa democracia com milhares de jornalistas, centenas de orgãos de Informação, sindicatos, Parlamento, Governo e Presidente da República seria obra digna de manual. Mais: tão estúpido seria este Governo, e este PM, que num dia mandava um ministro dizer uma coisa, e no dia seguinte pressionava uma demissão. Era preciso ser «burro», convenhamos. E isso não é uma característica deste PM, mas sim de alguns que agora vociferam contra ele. É Portugal às avessas.

Diário Digital 07-10-2004 21:23:15

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Calimero,
a estupidificaçao deste país não é culpa deste ou de outros governos, mas sim da povaça...
ela barafusta e maldiz a sua sorte, mas onde estão os actos??
cada vez que se "muda" de governo, será necessário trocar de viaturas de topo de gama com leasings caríssimos e manutençao ainda mais cara?? será necessaria a existência de 14 secretárias para um 1º ministro e sete para um ministro?? quantos motoristas, e sabe-se lá mais quê de um rol de profissões que nem sei bem, são precisos??
ouvi hoje no noticiário das 11 da manha que o governo pretende criar mais mil postos de trabalho...mais secretária, assessores, motoristas??
e a povaça a pagar....mas não e a povaça que assim quer??
afinal de que nos queixamos nós??
do amigo do amigo que é amigo de uma das secretárias, do assessor ou do motorista, que por acaso ate se casou com a prima do nosso cunhado,e que um dia podera fazer aquele favor ??

Anónimo disse...

O Preço da Liberdade
Por MIGUEL SOUSA TAVARES
Sexta-feira, 08 de Outubro de 2004

Há várias maneiras de classificar as pessoas. Um amigo meu costuma classificá-las entre as que são importantes e as que o não são - sendo que importante, aqui, significa apenas, e é muito, aquilo que merece a nossa importância, a nossa atenção, e o que o não merece: parece-me, todavia, um critério curto. Uma amiga minha gosta de as classificar, simplesmente, entre boas e más pessoas - bons e maus caracteres: parece-me um critério que faz sentido, mas que abrange apenas o domínio das relações pessoais. Mas, se pretendemos classificar as pessoas pelo critério da cidadania, a classificação que sempre tive como fundamental é a que distingue os homens livres dos capachos.

O grande mal português é que temos, verdadeiramente, poucos homens livres. Pouca gente, poucos cidadãos, que estejam dispostos a viver a sua vida, a construir o seu caminho, sem terem de prestar vassalagem a várias formas de poder. Os arquitectos não são livres, porque dependem dos interesses económicos do dono da obra. Os médicos não são livres, porque, regra geral, querem ser simultaneamente profissionais liberais e assalariados do Estado. Os advogados de sucesso não são livres, porque dependem da consultadoria dos governos e do tráfico de influências entre os negócios, o poder e o patrocínio. Os empresários não são livres, porque dependem dos subsídios, das isenções fiscais e da atenção do governo nos concursos públicos. Os intelectuais não são livres, porque estão quase sempre dependentes de empregos, bolsas ou subsídios públicos, os quais acabam inevitavelmente por pagar com simples fretes de propaganda partidária. Os jornalistas, quase todos, não são livres, porque dependem do pequeno chefe, o qual reporta ao editor principal, o qual deve satisfações ao proprietário, o qual tem de prestar atenção aos humores e sensibilidades do poder da hora.

Portugal não é, nunca foi, um país de homens livres, de homens verdadeiramente amantes da liberdade, para quem a liberdade seja tão importante como poder respirar. A grande e púdica mentira em que temos vivido nos últimos trinta anos é a de ter acreditado, ou fingido acreditar, que no dia 26 de Abril de 1974 éramos todos pela liberdade. Desgraçadamente, nesse longínquo dia, não era "a poesia que estava na rua", mas sim a hipocrisia. A liberdade não se encontra ao virar da esquina - conquista-se, merece-se e alcança-se, por si próprio e individualmente, com riscos e com perdas, e não a coberto da protecção fácil das multidões ou das leis.

Não há lei que possa declarar um homem livre, se ele próprio não está disposto a bater-se pela liberdade que lhe deram e a pagar o preço que ela exige - sempre.

Pagamos, e temos pago, bem caro o preço inverso: o preço de não sermos e nunca havermos sido uma nação de cidadãos amantes da liberdade - não a de cada um, individualmente, mas a de todos. O preço de termos empresários que vivem do favor do Estado, sindicatos que vivem do abrigo partidário, intelectuais que vivem das migalhas do orçamento da cultura. O preço de sermos dependentes, tementes e subservientes. As nações de homens livres prosperam; as nações de gente subserviente definham: cada vez estamos mais próximos do México ou da Madeira e cada vez mais distantes da Espanha ou da Inglaterra. Temos, exacta e friamente, aquilo que merecemos.

Por ora, não vou perder-me nos sórdidos detalhes desta semana portuguesa, em que de repente foi como se toda a podridão escondida tivesse vindo à superfície. Vi vermes rastejando em directo televisivo, vi o medo, a subserviência, o preço, estampado na cara de gente porventura boa, ouvi razões e argumentos de estarrecer, conheci factos e circunstâncias que nem nos meus mais negros momentos de descrença julguei serem possíveis nesta desilusão a que chamamos Portugal. Por ora, contenho-me, porque o nojo e a revolta são ainda tão presentes que ofuscam a lucidez e a serenidade que certas coisas exigem absolutamente. Mas quem me lê sabe que apenas preciso de tempo e de recuo - como quem recua perante um quadro para melhor o ver.

Aliás, impõe-se a distância necessária para tentar entender que país é este, que cidadãos são estes e o que verdadeiramente os preocupa: a vaca a ser mungida na Quinta das Celebridades ou o Governo a ser mungido na Quinta dos Influentes?

2. Há dois anos atrás, ingenuamente, aceitei fazer parte de uma comissão nomeada pelo anterior Governo e cuja missão principal era definir como deveria funcionar a televisão pública, com que meios e financiamentos e a que regras deveria obedecer. Como eu, várias outras pessoas, que nada quiseram nem receberam em troca, sacrificaram muito dos seus tempos úteis e livres, para, dentro do prazo fixado, dotar o Governo do resultado de uma reflexão, em forma de propostas concretas, que reunia o maior consenso possível entre gente de diversas proveniências e ideias. Recebido o trabalho e fingindo-se escudado nas conclusões da sua "comissão independente", o ministro Morais Sarmento meteu as conclusões ao bolso e, até hoje, nem um obrigado nos disse.

Entre as conclusões que ele fez desaparecer instantaneamente na atmosfera, estava uma que recomendava que as regras editoriais e deontológicas estabelecidas para o funcionamento da televisão pública tivessem, obviamente, extensão a todo o território nacional, incluindo Açores e Madeira. Porque, tanto quanto era do nosso conhecimento, nas regiões autónomas vigora a mesma Constituição, o mesmo regime democrático e o mesmo Estado.

Porém, a solução adoptada para a Madeira foi exactamente a oposta e que veio ao encontro das antigas e persistentes exigências do soba local: a RTP-Madeira foi dada de bandeja ao dr. Jardim, aí vigorando, como no resto da vida pública local, uma concepção de liberdade de informação que se confunde com aquela em que o dr. Jardim aprendeu a fazer jornalismo, no tempo do partido único, da censura e da ditadura. E a coisa seguiu assim, sem escândalo de maior. Esta semana, porém, a sem-vergonha do regime madeirense chegou ao extremo de o PSD-Madeira (um eufemismo do dr. Jardim) protestar oficialmente pelo facto de a RTP nacional ter enviado equipas de reportagem à Madeira para cobrirem (para o continente, exclusivamente) as eleições locais - o que, segundo eles, constitui um "insulto à alta capacidade dos profissionais da RTP-Madeira". E mais, indignaram-se eles com o facto de os jornalistas idos de Lisboa "se terem instalado num hotel", a partir do qual "transmitem para Lisboa aquilo que em segredo montam, com máquinas que trouxeram e aí colocaram". Por mais que puxe pela memória, só consigo lembrar-me de coisa semelhante comigo ocorrida na antiga Roménia de Ceausescu. O PSD-Madeira é hoje o único regime em toda a Europa que considera um insulto e uma ameaça a presença de jornalistas "estrangeiros" a reportarem para fora como funciona o seu regime.

Será isto, pergunto, "o regular funcionamento das instituições democráticas", tão caro ao Presidente da República? Ou a excepção democrática madeirense já está definitivamente assumida como coisa banal e inevitável?

Jornalista