quinta-feira, outubro 28, 2004

OBRIGADO

Finalmente as atenções estão voltadas para os cientistas de comunicação e o seu trabalho.
Na qualidade de escriba mais velho deste pasquim, sinto-me habilitado para dizer que, desde o fim do Estado Novo, este é o primeiro governo com preocupações no âmbito da comprovação e da experimentação da comunicação.
Durante milénios o acto de comunicação limitou-se aos sinais sonoros, visuais e sensoriais emitidos pelo corpo humano. Ao entender estas limitações o Homem quis ir mais longe, quis ultrapassar as barreiras da distância, inventou aquilo que mais tarde Marshall McLuhan designaria por “extensões dos sentidos”. O tambor transformou-se numa extensão da fala e os sinais de fumo numa extensão dos gestos. Assim nasceu a comunicação de massas. Com a evolução tecnológica estas extensões transformaram-se numa panóplia de meios de difusão de comunicação maciça.
Muitas das invenções destinadas a aumentar ou melhorar a comunicação estão associadas ao exercício do poder, quem detinha os melhores meios de comunicação detinha o poder (parece-me que ainda hoje é assim).
À medida que os novos meios iam emergindo, o Homem foi ficando cada vez mais fascinado e aterrado. Cada “extensão” trazia em si um mundo de promessas e um inferno de ameaças. Os receios não estavam apenas relacionados com as intenções do comunicador (onde é que já ouvi isto), mas também com as características do meio de comunicação, como podemos ver por estes exemplos históricos:
- Sócrates lançou alertas contra o aparecimento da escrita alegando que esta iria provocar a preguiça mental.
- A divulgação da impressão, no séc. XIX assustou as autoridades Britânicas que receavam que o acesso da população à palavra escrita provocasse um levantamento popular.
- Em 1920, nos Estados Unidos, o cinema foi acusado de produzir efeitos negativos nas crianças.
- Nos EUA os “Comic Books”, estiveram para ser proibidos, sendo acusados de ser “o ópio do infantário” , para além de contribuírem para o analfabetismo, por proeminentes psicólogos americanos da década de 40.
- Do ponto de vista da escola de Frankfurt (1942) “os indivíduos não passam de fantoches manipulados pela sociedade”.
- Na década de 50, os maiores “inimigos” da cultura eram a televisão e a rádio.
Hoje em dia subsiste o medo da influência nefasta dos media O receio cresceu paralelamente ao aumento de poder de cada meio e parece, ainda nos dias de hoje, ter-se transformado numa obsessão incontrolada.

Nos meus, idos, tempos académicos, a aprendizagem baseava-se no estudo das variadas, e muitas vezes contraditórias, teorias de comunicação e de manipulação. Agora temos a ajuda de um conjunto de ilustres que, com os seus preciosos contributos, têm permitido a comprovação de uma panóplia dessas teorias através da criação de um "grande laboratório" com cerca de 10 milhões de cobaias.

Vejamos os primeiros estudos e as respectivas conclusões:
Ao vermos/ouvirmos/lermos as declarações contraditórias entre o nosso primeiro e nosso das finanças reconhecemos, em uníssono, a falta de habilidade comunicacional do governo assim como o seu desnorte (Teoria Hipodérmica);
Quem falou em cabala foi o ministro dos assuntos parlamentares; que disse que ela era involuntária e que a sua existência não permitia o contraditório. (Modelo de Lasswell);
A tentativa de utilização de um código simples e isento de ruído (Teoria da Informação);
Nos dias seguintes as conversas de “família” versam sobre esta noticia dando lugar à “confirmação” da mesma por parte dos “mais informados” (Teoria dos Efeitos Limitados);
Pretendiam uma reacção acritica das massas que aceitasse esta realidade sem a analisar nem contestar (Teoria Critica)
Utilizaram as raízes culturais para manterem os seus efeitos a longo prazo (Teoria Culturológica)
Os temas de dialogo do dia seguinte foram absorvidos por esta noticia relegando para segundo plano o estado das finanças publicas, a colocação dos professores e a "bomba" das reformas milionárias (Agenda-setting)
Já para não falar da existência de uma “força detentora do conhecimento da manipulação”, onde se enquadram as teorias de Wright (1963) em que cada indivíduo é visto como um átomo isolado que reage isoladamente às “ordens e às sugestões” dos meios de comunicação de massa monopolizados. (Central de Comunicação…, hum,… talvez tenho tirado daqui a ideia)
A sesta... nem sei em que teoria se enquadra.

Obrigado Senhores, nós, os comunicólogos, Vos agradecemos..

1 comentário:

Carlos Galveias disse...

***** (não, não são *, mas sim estrelas - muito bem conseguido este texto)

Apresento a devida vénia, grande comunicólogo!

Vou dormir a sesta...