sábado, novembro 22, 2003

Politicos de memória curta...

António Costa Critica "Involução" na Informação Televisiva
Por MÁRIO BARROS - Público
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2003

"Num país com tão baixo nível de literacia, a tele-exclusão é fatal. E o problema é agravado pela 'involução' que tem havido na informação televisiva, que tem de ser espectáculo e entretenimento." A expressão é de António Costa, presidente do grupo parlamentar do PS, que ontem esteve nos Encontros do Porto'03, e revela muita da preocupação que parte da classe política tem face ao panorama televisivo actual.

Segundo António Lobo Xavier, do CDS-PP, "para a opinião pública, o que não vem na comunicação social, em particular na televisão, não existe e os políticos partilham um pouco essa ideia". Daí que, na sua opinião, "as audiências tenham criado um novo arquétipo de político e muitos candidatos são escolhidos pelo seu 'good looking'".

António Costa lembrou, por outro lado, que a imagem dos políticos (ou da política de um executivo) pode ser rapidamente penalizada "com aberturas consecutivas nos telejornais a falar de crimes", numa alusão ao curto ministério de Fernando Gomes à frente da Administração Interna. "Curioso é que nesse ano os índices de criminalidade até eram muito baixos", disse, no decorrer do debate "A televisão e os políticos: quem determina a agenda social e política?", promovido pela Associação Comercial do Porto.

Mostrando-se desiludido pelo facto de os espaços de debate estarem arredados das televisões generalistas, Lobo Xavier constata que "a televisão acabou por formatar o discurso dos políticos, matou o debate. Pessoas exaltadas, indignadas, que puxam pelo seu brio, e convicções não passam nas televisões", disse o deputado, criticando ainda o facto de a "linguagem simplista" atravessar o espectro político, "da esquerda à direita; a citação de um pensamento político é hoje em dia vista como uma coisa inédita". O professor universitário Mário Mesquita discordou, lembrando que "a sloganização do discurso já vem desde o século XIX, na altura dos comícios, em que era preciso inflamar uma plateia".

"Concentração reduz liberdade dos jornalistas"

De realçar foi a aproximação de opiniões de Lobo Xavier e de António Costa relativamente à concentração dos "media" em grandes grupos económicos. "Essa concentração reduz a liberdade dos jornalistas. É curioso que no tempo em que há mais democracia no mundo, os actores da transformação, no campo da comunicação social, são quem tem menos liberdade", resumiu Lobo Xavier.

Noutro sentido, o deputado socialista recordou a actuação da SIC na recente queda dos ministros da Educação e dos Negócios Estrangeiros, bem como a posterior divulgação de excertos das escutas telefónicas a dois membros do PS, no âmbito do processo da Casa Pia, para afirmar que o objectivo foi simples: "Não foi nenhuma questão estratégica contra este ou aquele político, mas sim ganhar 'share', mais anunciantes e, com isso, dar mais dinheiro ao dr. Balsemão", acusou António Costa

Se estes dois políticos mostraram a sua faceta crítica quanto ao actual estado da televisão em Portugal - António Costa saudou a RTP por, finalmente, "ter encontrado o seu espaço" -, já o professor universitário Mário Mesquita preferiu falar em "interacção" na produção da agenda mediática dos diversos agentes da notícia, sejam eles políticos ou jornalistas. Isto porque a agenda é desdobrável em vários itens: "A agenda que as instituições pretendem colocar em evidência junto do público, a agenda dos 'media', que pode perturbar o Governo, e as agendas da opinião pública e de cada um de nós."

No final do debate, a escritora Agustina Bessa-Luís defendeu a ideia de que "a televisão não tem tanto poder sobre as pessoas como muitos pensam, ela ilude, mas não engana".



Bom... um bom fim-de-semana

..::carlos galveias:...

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