quinta-feira, maio 26, 2005

Ritualização



A Crença só se Mantém pela Ritualização

Uma verdade racional é impessoal e os factos que a sustentam ficam estabelecidos para sempre. Sendo, ao contrário, pessoais e baseadas em concepções sentimentais ou místicas, as crenças são submetidas a todos os factores susceptíveis de impressionar a sensibilidade. Deveriam, portanto, ao que parece, modificar-se incessantemente.

As suas partes essenciais mantêm-se, contudo, mas cumpre que sejam constantemente alentadas. Qualquer que seja a sua força no momento do seu triunfo, uma crença que não é continuamente defendida logo se desagrega. A história está repleta de destroços de crenças que, por essa razão, tiveram apenas uma existência efémera. A codificação das crenças em dogmas constitui um elemento de duração que não poderia bastar. A escrita unicamente modera a acção destruidora do tempo.

Uma crença qualquer, religiosa, política, moral ou social mantém-se sobretudo pelo contágio mental e por sugestões repetidas. Imagens, estátuas, relíquias, peregrinações, cerimônias, cantos, música, prédicas, etc., são os elementos necessários desse contágio e dessas sugestões.

Confinado num deserto, privado de qualquer símbolo, o crente mais convicto veria rapidamente a sua fé declinar. Se, entretanto, anacoretas e missionários a conservam, é porque incessantemente relêem os seus livros religiosos e, sobretudo, se sujeitam a uma multidão de ritos e de preces. A obrigação para o padre de recitar diariamente o seu breviário foi imaginada pelos psicólogos que conheciam bem a virtude sugestiva da repetição.

Nenhuma fé é durável se dela se eliminam os elementos fixos que lhe servem de apoio. Um Deus sem tempestades, sem imagens, sem estátuas, perderia logo os seus adoradores. Os iconoclastas eram guiados por um instinto seguro, quando quebravam as estátuas e os templos das divindades, que eles queriam destruir.

Os homens da Revolução, procurando anular a influência do passado, tinham igualmente razão, no seu ponto de vista, quando saqueavam as igrejas, as estátuas e os castelos.

Mas essa destruição não foi suficientemente prolongada para actuar nos sentimentos fixados por uma hereditariedade secular. A sua duração é mais longa do que a das pedras que as simbolizam.


Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'

3 comentários:

Anónimo disse...

Que fotografia espectacular!!!
Posso concluir..após visionar o seu blog que tem um imenso bom gosto fotográfico!
Os autores devem partilhar da minha opinião..por acaso já lhes pediu autorização para publicar as ditas fotografias?Secalhar devia pensar nisso..
É apenas um conselho..

Cumprimentos

Anónimo disse...

está instalada a república das bananas...
a fotografia deixou de ser visto como algo pessoal para ser uma "lojinha dos 300". qualquer um saca a foto e faz dela o que quer.

o autor dela? que se foda!

Anónimo disse...

É preciso baixar o nível e usar o calão?
É por essas e outras, que isto é a "república das bananas", quando alguém mesmo que tenha razão, perde-a, mostrando a sua falta de categoria e covardia, escondendo-se atrás da agrdável concha do anonimato...