sexta-feira, maio 13, 2005

Recordações de Almada




Reconhecimento à Loucura

Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?

Já.

E tomar a forma dos objectos?

Sim.

E acender relâmpagos no pensamento?

Também.

E às vezes parecer ser o fim?

Exactamente.

Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?

Tal e qual.

E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?

E dar-nos a cheirar uma cor que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?

E sentirmo-nos empurrados pelos rins na aula de descer abismo se fazer dos abismos descidas de recreio e covas de encher novidade?

E de uns fazer gigante se de outros alienados?

E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe a ponto do impossível ficar possível?

E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?

E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?

E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.

Só tu és capaz de fazer que tenham razão tantas razões que hão-de viver juntas.

Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.

Só tu tens asas para dar a quem tas vier buscar.

José de Almada Negreiros

2 comentários:

Gotinha disse...

A foto é genial!!!

Anónimo disse...

foi exactamente por isto que me apaixonei...sábias estas palavras...