quarta-feira, outubro 01, 2003

Histórias Ferroviárias (3)

Em plena escuridão, e assolado pela insónia crónica, comecei a pensar em todos aqueles que diariamente enfrentam as agruras do transito em detrimento do transporte ferroviário, e tomei uma decisão., uma mudança radical na minha postura perante a circulação.
Reapontei o despertador.

Ao primeiro toque das trombetas da alvorada iniciei as práticas de higiene internas, e externas, e num abrir e fechar de olhos estava ao volante, pronto para comprovar os desprazeres da circulação rodoviária.
Em menos de nada cheguei ao tão badalado IC19.
Ó céus. Ó criaturas do demo. A estrada estava vazia.
Mentira das mentiras.
Cabala rodoviária de todos aqueles que vivem da maledicência. Anos a fio a escutar histórias de agruras nesta via e, afinal, era tudo mentira, uma grande e generalizada mentira, não se vislumbrava trânsito que justifica-se a mais leve queixa.

A estrada estava tão apetitosa que cedi à tentação. Quase sem me aperceber, carreguei no acelerador e, descoberta das descobertas, estava a cometer uma infracção. Noventa e um quilómetros hora. Ó felicidade esfuziante. O crime perfeito, estava a cometer o crime perfeito.
Ó alegria das alegrias.
Até isto me foi permitido nesta, ampla e fluida, estrada.

Contrariando todos os arautos da desgraça dei por mim à porta do escritório em menos de quinze minutos.
Quinze rápidos minutos, e não aquelas histórias mentirosas de suplicio no trânsito. Cambada de aldrabões.

F.Marinho

PS. Alguém me pode explicar o que é que eu faço no escritório às cinco e quinze da madrugada?


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