segunda-feira, dezembro 06, 2004

Carteiras profissionais...

O ainda jornalista Luís Delgado tem destas coisas, consegue sempre motivar os seus admiradores. A sua coluna de hoje no Diário Digital não é excepção. “Vitória antes de tempo” é o título que utiliza para explanar a sua visão a raiar uma vulgar teoria de conspiração. É verdade que a grande maioria das pessoas antecipou uma vitória de John Kerry nas recentes presidenciais norte-americanas. Mais do que um truque de magia proporcionado por uma bola de cristal adquirida no centro comercial da Praça de Espanha, tratava-se de um desejo. Não tanto no território onde as eleições decorreram – como aliás as sondagem prognosticavam -, mas mais no restante mundo civilizado. Na Europa John Kerry teria alcançado uma maioria esmagadora.

As eleições decorreram fora da época natalícia e o Pai Natal não satisfez os desejos de um Mundo inteiro. A sorte de Bush e companhia foi mesmo o resto do Mundo não poder votar no actual sheriff da humanidade.

Desconheço se existe em curso algum acerto de contas entre Delgado e o Expresso, a citação que este utiliza referenciando um editorial de José António Saraiva, indica que sim. Provavelmente o director do Expresso referia-se ao próprio Luís Delgado quando afirmou: “De um dia para o outro, muitos dos nossos comentadores tinham mudado de opinião. O fenómeno não é de agora - é de sempre. Arrisco mesmo dizer que, se o país tivesse memória e não houvesse um geral clima de impunidade, muitos dos nossos colunistas já não teriam «carteira profissional». Porque se enganam sistematicamente.”

Deixa-me que te diga amigo Luís, o António Saraiva tem toda a razão, tu é que não o compreendeste. Lá está… falta de compreensão, um dos teus grandes problemas…

A “carteira profissional” é utilizado aqui como metáfora, mesmo tu deverias saber que não é necessário ser titular de uma para se ser comentador. O requisito é ser perito numa determinada área. São essas as pessoas que devem dar a sua opinião, de uma forma legítima e clara. O Nuno Rogeiro, por exemplo… ele tem perfil de comentador por ser um indivíduo entendido.

Sim, eu sei que existe o género jornalístico de opinião. Mas este não constitui a principal ferramenta de trabalho de um jornalista. Sabes o que é um jornalista, não sabes? Esse sim tem de ser possuidor de uma carteira profissional. Documento que lhe deveria ser retirado quando este sistematicamente e de uma forma premeditada viola o Código Deontológico dos jornalistas.

Código Deontológico? Bem Luís, a sua explicação ficará para um outro dia. Hoje já te dei demasiada informação, principalmente numa altura em que tantas pessoas andam a atacar o teu protegido… vai com calma…

Prevejo que também tu acabarás por ser uma vítima, exactamente como Santana, acabarás por sucumbir aos teus impulsos e falhas. Poderás não concordar com o Presidente da República, estar aborrecido (eu compreendo essas birras, tenho um filho com oito anos que não gosta de ser contrariado), mas afirmar que vivemos num regime presidencial? Não vês que estás a ir demasiado longe?

Acreditas mesmo que o Presidente da República se esqueceu de avisar seja quem for? Repara bem: o Presidente ainda não dissolveu a Assembleia da República. Ele só o fará depois das reuniões com o Conselho de Estado e os partidos com acento na Assembleia. Mais uma vez tem calma… estás de cabeça quente… é nessa altura que se cometem mais erros.

No caso de vires a ter razão e a euforia dos socialistas ser derrotada, pensa: “Quem ri por último, ri melhor”. Por agora faz o teu trabalho, gere bem as empresas de dinheiros público, é para isso que estás a ser pago. Não te esqueças de marcar um grande almoço de Natal, de forma a deixares uma boa recordação antes de te teres de vir embora… de regresso ao jornalismo…



Vitória antes de tempo por Luís Delgado em Diário Digital 05-12-2004 14:46:09

A maioria que dava a vitória a Kerry é a mesma, agora, que dá por «terminado» Santana Lopes e o PSD, com ou sem coligação com o PP. É um erro crasso que, como dizia há uns dias o director do «Expresso», referindo-se às presidenciais americanas, e no «OnLine», deveria ter consequências: «De um dia para o outro, muitos dos nossos comentadores tinham mudado de opinião. O fenómeno não é de agora - é de sempre. Arrisco mesmo dizer que, se o país tivesse memória e não houvesse um geral clima de impunidade, muitos dos nossos colunistas já não teriam «carteira profissional». Porque se enganam sistematicamente.»

Aguardemos. Os socialistas estão eufóricos, com a decisão presidencial – não percebendo que a partir de agora Portugal entrou num sistema presidencial, em que não contam maiorias ou minorias – cantando vitória antes do tempo. São os mesmos que juraram a vitória de Kerry.

Se o PSD e o PP usarem a estratégia correcta de campanha, os portugueses tenderão a achar que houve uma inversão inexplicável de um ciclo e o ataque directo a um Governo e a um PM, que mesmo tendo cometido erros e falhanços, não teve tempo para mostrar o que valia. Aliás, compare-se a situação: Santana foi vítima dos seus impulsos e cometeu falhas, mas que dizer de um presidente, com nove anos de exercício do cargo, que dissolve uma maioria absoluta, esquece-se de avisar a segunda figura do Estado, e toma a decisão sem mesmo ouvir os partidos e o Conselho de Estado. O regime passou a ser presidencial?

Vamos viver a campanha mais dura de sempre, em que o presidente é um interveniente directo, que não zelou pelo princípio de respeitar todos os portugueses, o seu voto, há dois anos e meio, e que não tem forma de explicar o que falhou no regular funcionamento das instituições. Uma trapalhada, enfim.

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