sexta-feira, julho 02, 2004

Ainda a Capital

Esta é a sua verdadeira história... afinal tudo começou muito antes de 1968...


Fundada em 21 de Fevereiro de 1968, A CAPITAL entrou em Setembro de 2001 para o universo do grupo Editorial Prensa Ibérica, detentor nesta altura de 17 diários de imprensa regional e local na Península, entre os quais "O Comércio do Porto", "Faro de Vigo", "La Nueva España" (Astúrias), "Levante" (Valência), "Información" (Alicante), "La Província" (Canárias) e "Super Deporte".

O título A CAPITAL cedo apareceu em publicações periódicas, como seria natural num país em que grande parte dos acontecimentos relevantes tem lugar em Lisboa. Assim, muito antes do jornal diário outros órgãos decidiram adoptar o sugestivo nome.

Nos primeiros anos do século XX, as ideias republicanas propagavam-se em Portugal com alguma intensidade. Uma série de acontecimentos - o ultimatum inglês, as dívidas da Casa Real, a impopular ditadura de João Franco - pouco abonatórios para quem governava o país tinha gerado um grande descontentamento e consequente desejo de mudança do regime. Emergia assim uma imprensa republicana e, nesse contexto, A CAPITAL.

O surgimento deste título, em 1 de Julho de 1910, ou seja, três meses antes da implantação da República, trouxe uma novidade: quem o dirigia (e era seu proprietário) não era exactamente uma figura política de projecção, como acontecia com os directores de outras publicações. Manuel Guimarães foi, antes e acima de tudo, jornalista. Quer isto dizer que, sem abdicar das suas ideias republicanas e democráticas, tinha o culto da notícia, da verdade, do facto, doesse a quem doesse.

Passou por A CAPITAL dessa época uma plêiade de grandes jornalistas, como Hermano Neves, que aqui se destaca por ser o pai de outro jornalista que, em 1968, estaria no lançamento da II Série do jornal. Em 1926, com o advento do Estado Novo, as oscilações na redacção dessa primitiva A CAPITAL já eram nítidas, adoptando o diário o seguinte subtítulo: "Jornal da Política da Esquerda Democrática". No final de Agosto desse ano A CAPITAL a publicação era suspensa.

Em 1921, surgiu o "Diário de Lisboa", vespertino que viria a ganhar grande prestígio, sobretudo pela exemplar forma literária usada em todo o jornal, do editorial à mais simples notícia. Foi seu fundador e primeiro director Joaquim Manso. A partir de certa altura, um transmontano de rija cepa, formado em Direito e que dera nas vistas como repórter (antes de ser crítico e tradutor teatral, cronista brilhante e escritor), foi nomeado director-adjunto. Era Norberto Lopes que, com naturalidade, assumiu a direcção do jornal quando o padre Manso (tinha sido eclesiástico) faleceu, em Setembro de 1956.

Mário Neves, o filho de Hermano Neves, também formado em Direito, espírito brilhante e multifacetado (foi desde administrador do Instituto de Oncologia a impulsionador e dirigente da Feira Internacional de Lisboa e viria a ser, depois do 25 de Abril, o primeiro embaixador em Moscovo), foi chamado a director-adjunto.

Em 1967, o ambiente turvou-se no "Diário de Lisboa", na sequência de medidas administrativas que ultrapassaram os directores e os levaram a considerar que, não podendo orientar o jornal, o melhor era demitirem-se.

Não desistiram, porém, das suas carreiras nem dos leitores que fielmente os seguiam. Decidiram, por isso, lançar outro jornal. A empresa era, porém, arrojada. Por um lado, a imprensa independente, descomprometida com o poder e com os potentados económicos, não era bem vista: conseguir um alvará para um novo jornal dava fortes dores de cabeça. Por outro lado, o mercado parecia saturado: só em Lisboa, saíam diariamente, de manhã, o "Diário de Notícias", "O Século", "A Voz", o "Novidades", o "Diário da Manhã"; à tarde, publicavam-se o "Diário de Lisboa", "República" e o "Diário Popular". Caberia mais um vespertino?

Mário Neves ter-se-á valido, pela primeira e única vez, do parentesco com Marcello Caetano, para fazer vergar quem dentro do regime olhava com desconfiança o surgimento de (mais) um jornal diário, ainda por cima dirigido por duas personalidades que não quadravam propriamente com o regime. O certo é que o prestígio dos dois fundadores falou mais alto.

No dia 21 de Fevereiro de 1968 saía o primeiro número da actual série de A CAPITAL, mercê do carácter empreendedor de Norberto Lopes e Mário Neves, o qual permitiu um conjunto essencial de boas vontades: Américo Covões, em nome da família, cedeu o título; conseguiram-se instalações na Rua do Século, quase em frente das oficinas daquele matutino; a família Pereira da Rosa disponibilizou uma impressora rotativa e uns tantos linotypes e, mediante o pagamento dos respectivos serviços, o jornal passou a ser composto e impresso no prédio fronteiro àquele em que era redigido. Um tubo pneumático atravessava a rua, transportando o original da mesa do chefe de redacção para a composição a chumbo.

Entre os colaboradores estava a "nata" do país: alguns com nome já firmado, como José Régio, Fernando Namora, Francine Benoit, Calvet de Magalhães; outros, que tendo obra literária já no activo, aguardavam ainda a hora de glória, como José Saramago.

Em 1971, A CAPITAL, já dirigida por Manuel José Homem de Melo, contava com equipamento técnico próprio até à impressão, que continuava a ser feita nas oficinas de "O Século". Em 1974, ainda antes da nacionalização, os proprietários tinham investido numa impressora rotativa, o que, acrescido aos meios próprios de distribuição, tornava o jornal completamente auto-suficiente.

Por força das nacionalizações da banca e de outras actividades, como os cimentos, A CAPITAL passou a ter o Estado como único accionista. Nessa fase foi decidida a sua união com o "Diário de Notícias", surgindo assim a Empresa Pública Notícias-Capital (EPNC). A CAPITAL vivia então em casa alugada na Rua Joaquim António de Aguiar e mudou-se para um imóvel no Bairro Alto, na Travessa do Poço da Cidade, que era à data da nacionalização propriedade do "Diário de Notícias". O jornal passou assim a funcionar plenamente num mesmo local - redacção, administração, publicidade e oficinas.

Francisco Sousa Tavares, personalidade vivaz e irreverente, manteve-se no cabeçalho como director do Jornal de Fevereiro de 1976 até Junho de 1984, facto que imunizou o título das tentações de instrumentalização política que afectaram à época outros jornais. Só a chamada de Sousa Tavares para funções de ministro num Governo de Mário Soares levaria a que abandonasse o jornal.

O segundo Governo de Cavaco Silva decide entretanto reprivatizar os jornais que tinham ido parar à alçada do Estado. A CAPITAL foi o primeiro a ser vendido, em 1988, e assim o título e todo o património (nomeadamente as instalações do Bairro Alto) foram adquiridas pela Sojornal, empresa do grupo Impresa, cujo maior accionista e principal figura é o antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão, que na altura declarou: "A CAPITAL é o único vespertino rentável e influente."

Em Julho de 1991, A CAPITAL muda-se para Cabo Ruivo, tornando-se inquilina do proprietário, passando a ser impressa na gráfica da Controljornal, subholding da Impresa, e distribuída na VASP, detida a 50% pela Sojornal. Ficaram para trás as instalações do Bairro Alto, que viriam a ser permutadas por um terreno camarário no prolongamento da Avenida dos Estados Unidos.

Após uma década de experiências, no final de 1999 conclui-se pela necessidade de alienar o jornal. Em Novembro de 1999, o director de então formula uma proposta que o levará a converter-se, no dia 1 de Janeiro de 2000, proprietário de A CAPITAL, situação transitória até à sua integração no universo da Editorial Prensa Ibérica, no âmbito do qual foi possível garantir a sobrevivência do mais antigo dos diários generalistas fundados no século XX.

Em Setembro de 2001, A CAPITAL passa a estar nas bancas de manhã, obedecendo à tendência que um pouco por toda a Europa foi obrigando os vespertinos a migrarem para matutinos ou a encerrarem, e em Março de 2002 é lançada a edição de domingo.

No dia 1 de Julho de 2004 estreou-se a edição electrónica.

Sem comentários: