terça-feira, setembro 28, 2004

TERTÚLIA V

JORNAL versus JORNAL.PT
"O lidarmos diariamente com versões em suporte papel e, quase simultaneamente, com outras em suporte digital está a banalizar-se de tal forma que, como tudo o que se torna rotina, nem notamos as diferenças, muito embora a procura de um meio e/ou do outro ocorra por razões/momentos diferentes.
Ao olharmos estes dois meios, de uma forma mais critica, o primeiro grande embate (constatação), para além da diferença do suporte e das suas mais (ou menos) valias, ocorre desde logo na "primeira página" ou "front-page":
 Minutos após a aquisição do jornal tradicional verifica-se que o seu "irmão digital" está "actualizado" relegando as noticias "do papel" para segundo plano e refazendo, e refazendo, e refazendo (esta redundância não é sinónimo de nenhuma gaguez informática) as manchetes com noticias "mais actuais";
 Todavia é possível ler, ou reler, as "mesmas" noticias do jornal tradicional mas, também aí há "novidades", com acesso a links de complementaridade da própria noticia
Se continuarmos e efectuarmos uma analise mais detalhada então é que "aquilo que parece deixa de o ser", ou seja: dois meios aparentemente iguais, fieis à mesma linha editorial e, na maioria dos casos, compostos por artigos elaborados pelos mesmos jornalistas permite-nos desde já concluir que "todos diferentes, todos diferentes", senão vejamos:
 Com o primeiro (suporte papel) o leitor não tem hipótese de interagir, a não ser de uma qualquer forma empírica ou, se considerarmos interacção material, com o "papel" (eu sei que me arrisco a ser crucificado pelos românticos/saudosistas do manusear o papel e do cheiro, inspirador, a tinta das rotativas);
 Já com o suporte digital o leque de opções é, pelo menos de forma aparente, ilimitado
Se no primeiro, qualquer leitor habitual sabe que à partida terá à sua frente uma "obra" standartizada e com uma sequência com a qual está familiarizado e que começa invariavelmente com as noticias da política nacional e internacional, passando de seguida para "cadernos" temáticos, tais como; noticias "locais"; economia; desporto e "mundanas". No segundo a ordem é perfeitamente arbitraria, existe a "bel-prazer" do ciber-leitor, muito embora não de forma anárquica. Na edição on-line o "leitor" tem à sua disposição, logo na front-page um conjunto de menus ou índices que lhe permitem seleccionar o "percurso" que muito bem entender, até ao fac-símile da edição em papel. Índices esses que de tão extensos me coíbo de aqui enumerar.
Regressemos à interactividade. Na edição on-line é possível ao ciber-leitor responder e/ou comentar, também on-line, quase todas as peças jornalísticas, todavia como a maioria destes "comentários" são efectuados de forma anónima reduz drasticamente a interactividade entre as partes.
Por ultimo a inter-relação de todos os meios: a multimedia. Se no suporte papel nos ficamos pela visão e pelo tacto (e também o tal cheiro do papel e da tinta) a versão on-line oferece-nos bastante mais, oferece-nos a complementaridade do áudio e do vídeo. "

MARINHO, Francisco in Tertúlia "O Fenómeno Bloguista e a Censura", Caldas da Rainha - 09/2004.


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