segunda-feira, setembro 13, 2004

Há 71 anos Fernado Pessoa escreveu...


"É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior do meu próprio. Devo falar do meu carácter. A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e de dúvida.
Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado.
Todas as coisas são desconhecidas, simbólicas do desconhecido.
Em consequência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente. Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou infância, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas (dessas mesmas tendências), por tudo isto meu carácter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto-suficiente, mas perdida em si mesma.
Toda a minha vida tem sido de passividade e de sonho."

...e ainda:

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, Setembro de 1933


Hoje sinto-me assim...

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