"É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior do meu próprio. Devo falar do meu carácter. A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e de dúvida.
Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado.
Todas as coisas são desconhecidas, simbólicas do desconhecido.
Em consequência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente. Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou infância, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas (dessas mesmas tendências), por tudo isto meu carácter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto-suficiente, mas perdida em si mesma.
Toda a minha vida tem sido de passividade e de sonho."
...e ainda:
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, Setembro de 1933
Hoje sinto-me assim...
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