quinta-feira, março 18, 2004

Não há verdade na mentira

É inquestionável que ocorreram pelo mundo variados actos terroristas que, em nome de uma deturpada visão religiosa, fomentam o terror através da morte indiscriminada e para os quais não existe adjectivação possível.
É verdade que essa uma corja de canalhas não se rege por parâmetros racionais nem reconhece qualquer valor humano.
É também verdade que a decisão de invadir o Iraque como forma de combate ao terrorismo, secundada pela existência de armamento e pelo acolhimento de terroristas, obteve desde logo um eco de vozes discordantes (entre as quais eu me incluo), vozes essas que em alguns países, nomeadamente em Espanha, representavam a opinião da maioria.
É também verdade que após os atentados em Madrid o governo de José Maria Aznar se comportou de forma atabalhoada tentando aproveitar-se do momento, manipulando a informação para dai retirar dividendos políticos.
É também verdade que o PP espanhol, contra todas as expectativas, perdeu as eleições de domingo.
Mas tentar justificar essa derrota com o clima de medo instalado pelo actos terroristas parece-me no mínimo "baixa" demagogia.
Citando José Pacheco Pereira, no seu artigo do Publico de hoje, " Para um democrata, eleições livres, mesmo que realizadas num ambiente de tensão, são uma genuína demonstração da vontade do povo espanhol. Estas eleições espanholas foram eleições livres e nada a dizer sobre isso. Houve manipulação de parte a parte, medo, votos de emoção? É possível. O medo é um mau conselheiro, mas o medo tanto podia "aconselhar" o voto no PP, como no PSOE. Face ao terrorismo, não há medos bons nem maus".
Mas no meio de toda a prosa que já foi escrita sobre estes assuntos há algo que ainda não consegui entender. Porque é que alguém que objectivamente era, e ainda sou, contra a invasão do Iraque tem agora que se manter calado, ou então alinhar com aqueles que a defendiam, sob pena de dar "uma vitória" ao terror?
Não serão as convicções morais mais importantes que a mentira?
Falar em "derrotismo do Ocidente" é demagógico e perigoso, não se pode confundir democracia com seguidismo, isso sim é dar "razão" aos tais canalhas.

F.Marinho

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