Espero que o tal padre não tenha lido este outro texto do Público
Uma em cada três adolescentes já tomou a pílula do dia seguinte
Alexandra Campos in Público
As jovens portuguesas continuam a correr muitos riscos nas relações sexuais. Um dos maiores estudos sobre as práticas contraceptivas já realizados em Portugal revela que uma em cada seis raparigas entre os 15 e os 19 anos não utiliza qualquer método anticoncepcional
Quase um terço das adolescentes sexualmente activas já tomaram a pílula do dia seguinte e 16 por cento admitem não utilizar qualquer método contraceptivo, de acordo com os resultados preliminares de um dos maiores estudos epidemiológicos sobre as práticas contraceptivas das mulheres portuguesas até à data realizados no país, numa iniciativa das sociedades portuguesa de ginecologia e de medicina da reprodução.
O elevado recurso à contracepção oral de emergência pelas jovens dos 15 aos 19 anos acaba por ser o resultado mais surpreendente deste estudo - que visou caracterizar a realidade da contracepção em Portugal, através de entrevistas a quase 3858 mulheres dos 15 aos 49 anos e residentes em Portugal continental, Madeira e Açores. Deste total, foi extraída uma amostra representativa de cerca de 1400 mulheres.
Aliás, este resultado contraria uma das observações do primeiro trabalho de âmbito nacional sobre contracepção oral de emergência concluído no final do ano passado pelo Observatório Nacional de Saúde - Instituto Nacional Ricardo Jorge. Neste trabalho - que teve por base um inquérito a 1075 mulheres que obtiveram a pílula do dia seguinte em 85 farmácias do país -, a franja de adolescentes não era tão significativa quanto se esperava, sendo o grosso da amostra (84 por cento) constituído por mulheres dos 18 aos 39 anos. Ainda assim, 92 das inquiridas tinham entre 16 e 17 anos, e das 18 com menos de 16 anos, a mais nova tinha apenas 12.
Quem não se mostra surpreendido com os resultados do estudo agora divulgado é Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento da Família (APF), para quem a elevada utilização da pílula do dia seguinte por parte das jovens não é preocupante por si só. O que é preocupante, no seu entender, é que um terço das jovens já tenham passado por situações de risco desnecessárias, o que as levou a, "de uma forma correcta", evitar uma gravidez não desejada.
"Não há aqui tragédia nenhuma", observa, notando que a APF continua a "não alinhar na ideia de que o uso de contracepção de emergência é um mau indicador de saúde". A APF, recorde-se, é uma das organizações que têm lutado pela despenalização do aborto em Portugal.
Também Nuno Montenegro, do Serviço de Obstetrícia do Hospital de S. João (Porto) e opositor declarado da descriminalização do aborto, não se mostra surpreendido com estes dados, que, diz, vêm ao encontro da prática clínica e da "vivência de quem está no terreno". Mas, ao contrário de Duarte Vilar, considera que são uma prova da "falta de informação e formação" neste domínio, para além de serem o resultado da "cultura de facilitismo e ligeireza com que em Portugal estas questões têm sido abordadas". "É necessário gastar dinheiro com isto, formar professores e não só alunos", defende.
Duarte Vilar aponta uma outra lacuna: só 30 por cento dos centros de saúde em Portugal tinham, em 2001 (dados da Direcção-Geral de Saúde), consultas de atendimento específicas para adolescentes. "Pelo menos ao nível de cada concelho devia haver um serviço de aconselhamento juvenil situado num ponto estratégico", preconiza.
Esquecimentos da pílula são frequentes
De resto, as conclusões deste estudo - que foi patrocinado por um laboratório farmacêutico (Janssen-Cilag) - vão na sua maior parte ao encontro daquilo que já se tinha percebido em trabalhos anteriores efectuados em Portugal. As mulheres entrevistadas revelaram um elevado grau de conhecimento relativamente aos métodos contraceptivos disponíveis, com especial ênfase para a pílula, o preservativo e a laqueação - que foram identificados por mais de 90 por cento das entrevistadas.
Já os métodos mais recentes - como o adesivo transdérmico, o implante subcutâneo e o anel vaginal - são conhecidos por pouco mais de metade das inquiridas. E a sua utilização é mesmo residual - apenas 0,3 por cento, 0,9 e 0,5 por cento das mulheres entrevistadas disseram utilizar estes métodos, segundo adiantou ao PÚBLICO Daniel Pereira da Silva, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
O outro problema determinante, que os resultados do estudo tornam evidente, é que a utilização da pílula convencional continua a deixar muito a desejar. Até porque os esquecimentos são frequentes - das mulheres a fazerem esta contracepção, três em cada quatro referiram que já se tinham esquecido de tomar a pílula pelo menos uma vez, um valor ainda mais acentuado entre as adolescentes: nove em cada 10 admitiram que isso já lhes acontecera.
E se 70 por cento das inquiridas afirmaram que os esquecimentos se verificam entre um a três ciclos por ano, 15 por cento revelaram que estes ocorrem em todos os ciclos. Nas adolescentes, de novo, este problema é ainda mais significativo: 22 por cento admitem esquecer-se em vários ciclos menstruais.
A agravar, e prova de que os esquecimentos são desvalorizados ou escondidos pelas mulheres, está o facto de apenas uma em cada quatro (números aproximados) contar regularmente ao médico este problema, o que, segundo os autores do estudo, acaba por "não dar aos profissionais de saúde uma percepção sobre a real dimensão do problema".
Sem surpresas, a pílula é, de longe, o método mais utilizado (88,3 por cento), seguido do preservativo masculino (66,5 por cento). No entanto, mais de um quinto das mulheres (22,9 por cento) admitiram ter usado o coito interrompido, método reconhecidamente falível. Para Duarte Vilar, estes últimos dados não fazem sentido e provavelmente resultam da mistura de práticas antigas e hábitos recentes das mulheres entrevistadas. "Não é possível que tantas mulheres usem o método duplo (pílula mais preservativo) em Portugal", frisa.
Mas também há boas notícias. Um aspecto positivo destacado no estudo é o do enorme salto do ponto de vista de informação sobre contracepção verificado entre a geração das jovens entre os 15 e os 19 anos - 83,4 por cento abordaram o tema na escola - em comparação com o grupo entre os 40 e os 49 anos - apenas 17,9 por cento.
quinta-feira, março 03, 2005
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1 comentário:
Será que essa educação não deverá também ser partilhada com OS jovens e não somente com AS jovens? Obviamente que a responsabilidade na teoria deverá (?!) ser exclusivamente delas mas na prática não será de ambos? Porque não informar OS jovens de alguma da responsabilidade que também pode ser deles e especialmente no caso de uma gravidez imprevista (?!)cuja responsabilidade é de facto de ambos e não apenas dela porque se esqueceu de tomar a pílula ou dele que não usou preservativo? OS e AS nossos(as) jovens gostam de passar estas responsbilidades de adultos para aqueles que se assumem como de facto adultos...os jovens são pequenos adultos e desde o início deve ser-lhes incutida a responsabilidade do que é menos ou mais grave e que consequentemente os pode tornar de imediato em adultos...e já agora...porque não ensinar também os adultos a ser mais adultos...
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