Foto de sophie thouvenin
Deve-se estar sempre bêbado.
Nada mais conta.
Para não sentir a horrível perda de tempo que esmaga os nossos ombros e nos faz prender para a terra, deveis embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embebedai-vos.
E se algumas vezes nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuído ou desaparecida a bebedeira, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: "são horas de vos embebedardes!"
Para não serdes os escravos martirizados do tempo, embebedai-vos sem cessar!
De vinho, de poesia, ou de virtude, à vossa escolha.
C.Baudelaire, Petits Poemes avec Prose, 1869