segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Ode à Pátria

Foto de Mara Mitchell

A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada.
Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.

Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.

Eu te pertenço mas seres minha, não.


Jorge de Sena

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Sonho

nave

"Há quem sonhe com coisas que aconteceram, e explicam porquê. Eu sonho com coisas que nunca acontecerão e pergunto: porque não?"

Autor desconhecido

Um velho

Foto de Leonel Santos Lopes



Um Velho

No café no lugar de dentro na zoeira turva
senta-se um velho na mesa se curva;
com um jornal diante dele, sem companhia.

E no desdém da velhice miserável
pensa como usou tão pouco o tempo deleitável
em que força, e eloquência, e beleza possuía.

Sabe que envelheceu muito; sente-o, é visível.
E contudo o tempo em que era novo ao mesmo nível
do de ontem. Que espaço apressado, que espaço apressado.

E considera como burlava dele a Prudência;
e como nela tinha confiança sempre - que demência! -
a perjura que dizia: «Amanhã. O tempo é demorado».

Lembra-se de impulsos a que punha freio; e sem medida
a alegria que sacrificava. Cada história perdida
agora troça da sua desmiolada sageza.

Mas do muito que foi pensando e não esquece
o velho atordoou-se. E adormece
no café apoiado sobre a mesa.


Konstandinos Kavafis

domingo, fevereiro 12, 2006

70 Anos de "Tempos Modernos"



Quando me amei de Verdade
Charles Chaplin

Quando me amei de verdade, compreendi que, em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exacto.
Então, pude relaxar.

Hoje, sei que isso tem nome... auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.

Hoje, sei que isso é... autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.

Hoje, chamo isso de... amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.

Hoje, sei que o nome disso é... respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável, pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo.De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.

Hoje sei que se chama... amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projectos megalómanos de futuro.Agora, faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.

Hoje sei que isso é... simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei menos vezes.

Hoje, descobri a... humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é quando a vida acontece. Hoje, vivo um dia de cada vez.

Isso é... plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.

Tudo isso é... saber viver!

Não devemos ter medo dos confrontos. Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.

sábado, fevereiro 11, 2006

Sobre o novo programa da RTP 1... HERANÇA

Não consegui resistir… transcrevo um mail que me veio parar à caixa de correio, já foi tantas vezes reenviado que não consigo identificar o autor. O texto exprime exactamente os meus sentimentos, daí: muito obrigado a quem conseguiu tão perfeita análise ao novo concurso da RTP.

Sobre o novo programa da RTP 1... HERANÇA (A estupidez como Herança )

O novo concurso da RTP, a Herança, tem um final assaz divertido: o apresentador revela cinco palavras sem qualquer ligação aparente e o concorrente "só" tem de descobrir, num curto espaço de tempo, o termo que está relacionado com todas elas.

Mas qual é a piada, perguntam vocês. Ora, a piada está no facto de ser impossível adivinhar o termo pretendido, tendo em conta que as cinco "pistas" são totalmente absurdas, enganadoras e filhas-da-puta. O pobre concorrente fica com cara de parvo a olhar para elas e, no final, quando lhe é revelado o termo que ele deveria (por milagre) ter acertado, solta um triste e pouco convicto "Ah, pois era". Isto perante o riso paternalista do intragável Malato, que qualifica esta patranha de "prova de conhecimento" e invariavelmente conforta o pateta do concorrente com o terrivelmente cínico:

"Está a ver? Bastava pensar um bocadinho!".

Vejam, por exemplo, o que se passou ontem. Estas eram as pretensas pistas (juro que é verdade):

Paulo
Napoleão
Paraguai
Évora
Promoção

Como podem ver, basta reflectir durante 2 minutos para descobrir o termo certo.
Não conseguem? Pensem lá mais um pouco.

Como é óbvio para uma luminária do calibre do Malato, a palavra certa só poderia ser: "Assunção".

Confusos?

Ora bem, como explicou o apresentador, "Paulo" é o primeiro nome do jogador do FCP Paulo Assunção (fodasse, esta era de caras pá e eu aqui a pensar em S. Paulo). "Napoleão" nasceu no dia 15 de Agosto, dia de Nossa Senhora da Assunção (Tão fácil. Como é óbvio, o concorrente deveria ter pensado "Napoleão? Ainda bem que publiquei a semana passada a minha tese de doutoramento sobre a vida de Napoleão. Sei que o gajo nasceu a 15 de Agosto de 1769 às 13:30, e sendo esse o dia da Nossa Senhora da Assunção, a resposta só pode mesmo ser Assunção"). A terceira pista, "Paraguai", é a única que faz sentido, sendo no entanto ofuscada pelo surrealismo das outras. "Évora" era uma pista muito óbvia para o Malato, já que a cidade tem uma igreja da Nossa Senhora da Assunção (não consta, no entanto, que o Paulo Assunção ou o Napoleão tenham alguma vez lá rezado uma missa). Por fim, "Promoção" é um dos sinónimos de "Assunção". Mais fácil que isto era impossível.

Gosto tanto deste programa que dou cinco pistas aos nossos leitores para descobrirem o termo subjacente:

Esquimó
Bode
Doente
Otário
Pontapé

Adivinharam? Claro que sim. A palavra certa é. "Malato"!

Ora bem, o "esquimó" é conhecido por comer muita gordura para se aquecer e gordura é o que não falta ao Malato. Quanto a " Bode", quem pode esquecer a barba de bode do Malato? Mais óbvio é impossível. "Doente" é um sinónimo de Malato (fui ver ao dicionário) e "Otário" uma das suas características mais salientes. Por último " Pontapé" era o que eu gostava de lhe dar naquela peida gorda (o que remete de novo para "Esquimó"). Fodasse, mais fácil era impossível. Ou como diria o Malato "Estão a ver? Bastava pensar um bocadinho!".

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Lisboa treme

Lisboa voltou a tremer, pelo menos à beira rio… eram cerca das 20 horas de Sábado, dia 28 de Janeiro.

Cumprindo promessa jurada um ano antes, um grupo de amigos reencontrou-se... a acompanhar um tradicional "Bacalhau à Lagareiro", foi ainda servido uma enorme quantidade de atorvastina e alprazolam...

Ficam aqui algumas das fotos mais emblemáticas da noite...